Somos todos antivacinas… ou a favor delas, o que dá no mesmo

Existe um crescente movimento antivacinas no mundo todo. E as razões alegadas vão desde possíveis efeitos colaterais, como a síndrome de Guillain-Barré, e episódios traumáticos de doenças transmitidas por vacinas no passado, até preocupações tão variadas como intoxicação por mercúrio, autismo e implante de nanorrobôs no momento da vacinação.

Não menos ativo é o movimento dos anti-antivacinas: pessoas que atacam os primeiros como se estivessem colocando a humanidade toda em risco. Talvez se preocupem mais em gritar contra os antivacinas do que em defender propriamente as “vacinas”. É por isso que não vemos um movimento simplesmente “pró-vacinas”. Não porque não existam pessoas sensatas a favor delas, mas porque, neste caso, há que se deixar de lado a polarização e fazer uma avaliação parcimoniosa dos prós e contras de cada vacina. Temos que abandonar o maniqueísmo e abraçar as nuances de um pensamento mais moderado.

Em primeiro lugar, não existe isso que chamam de “vacinas”. Não se pode ser contra ou a favor das “vacinas”, como se elas estivessem todas no mesmo “saco”. Há vacinas que ninguém deixaria de usar, como a da raiva em caso de mordida por um cão estranho ou do tétano em caso de ferimentos graves. Existem vacinas infantis que impedem doenças potencialmente graves e que são usadas há muito tempo com perfil de risco/benefício favorável, como as da poliomielite, sarampo e meningite. Mas há também um grupo mais novo de vacinas, como as do HPV, rotavírus e influenza, cujo perfil de risco/benefício varia conforme as circunstâncias e o público-alvo, dando margem a uma saudável discussão sobre custos, riscos, benefícios e preferências pessoais.

É importante lembrar que existe um interesse financeiro muito forte por trás da questão das vacinas e para o qual é preciso estar atento. Ao se insuflar um movimento antivacinas, aumenta-se a importância das “vacinas”. Nada melhor para quem quiser emplacar uma vacina inútil e cara do que colocá-la no mesmo “saco” de vacinas consagradas como as da poliomielite, do sarampo ou do tétano. Outras ideias bastante lucrativas são a criação de pânico com doenças banais, a vacinação compulsória e a atualização periódica de nosso sistema imunológico com vacinas da mesma forma que fazemos com o sistema operacional de nossos computadores.

Por isso, sempre que alguém se posicionar como anti ou pró-vacinas, tente entender exatamente sobre qual vacina ele está se referindo, pois isso faz toda a diferença. Não caia na armadilha da generalização. A simplificação e o raciocínio polarizado têm dois resultados graves: pessoas que deixam de fazer vacinas cruciais e pessoas que fazem vacinas desnecessárias ou perigosas. A melhor maneira de combater essa polarização perigosa é avaliar criteriosamente cada uma das vacinas e, principalmente, evitar qualquer tipo de generalização. Isso só interessa a quem lucra com todo tipo de vacinas.