Mais bananas que homens

Em sua origem, as chamadas ciências naturais sempre buscaram entender melhor os fenômenos da natureza e, neste sentido, sempre nos mantiveram ligados a ela. Entender melhor a natureza significa entender melhor a nós mesmos, já que não podemos viver apartados dela, por mais que algumas vezes acreditemos nisso. Entre os grandes avanços científicos recentes, a descoberta de nossa hereditariedade presente em nossos genes e o sequenciamento completo de nosso DNA não foram diferentes, pois deixaram claro o quanto estamos ligados a toda essa natureza que nos cerca. Saber que compartilhamos uma quantidade significativa de nossos genes com outras espécies pode ser fundamental para entender o porquê de nos fazer tão bem estarmos em contato com a natureza.

Recentemente descobrimos que, além de termos 99,9% de nosso DNA compartilhado com os outros seres humanos independentemente de suas posições políticas, temos vários de nossos genes compartilhados com várias outras espécies da natureza, sejam elas plantas ou animais. Somos muito parecidos com os antigos neandertais, já que partilhamos com eles 99,7% de nosso DNA. A similaridade genética entre homens e chimpanzés chega a 98%. No caso dos gatos domésticos essa semelhança chega a 90%. Com os ratos compartilhamos cerca de 85% de nossos genes, porcentagem que chega a 80% no caso das vacas e 70% no caso das lesmas. Mesmo com as árvores, aparentemente tão diferentes de nós, partilhamos 50% de nossos genes. Além disso, para surpresa de muita gente compartilhamos 60% de nossos genes com as bananas. Assim, se mais da metade de nossos genes são compartilhados com as bananas e temos, de certa forma, mais genes de banana do que genes “específicos” de seres humanos, não é exagero afirmar que somos mais bananas que homens.

Talvez este fato de sermos mais bananas que homens possa explicar muitas coisas. Ele pode explicar por que motivo deixamos que a busca incessante de lucro e produtividade passasse a ser mais importante que valores tão mais nobres como justiça, liberdade e felicidade em nossa sociedade. Isso também pode explicar por que aceitamos passivamente ser governados por pessoas brutalmente despreparadas para o cargo que ocupam. Nossa condição de bananas talvez explique por que deixamos que os bilionários das mídias digitais e redes sociais adotem a censura como ferramenta de distorção da realidade em pleno século XXI, o século da comunicação e da informação. No campo da medicina, esta “bananice” inata também pode explicar por que aceitamos que a indústria farmacêutica controle grande parte da pesquisa médica, teste a eficácia de seus próprios produtos e estabeleça para eles o preço que bem entenda. É possível que muitas pessoas nem percebam o quanto isso afeta suas vidas, mas a verdade é que já passa da hora de resgatarmos aquela pequena parte que nos diferencia de bananas, lesmas e ratos a fim de fazermos algo para recuperar nossa humanidade e dignidade. Caso contrário, seguiremos sendo mais bananas que homens. Uns eternos bananas.