Quando o pranto está pronto

Poesia de Arnaldo Antunes

Esta poesia é, na verdade, um trecho de uma poesia maior, e nele Arnaldo Antunes fala de algo muito humano: o pranto. Todo ser humano tem necessidade de chorar. O poeta sabe disso e também sabe colocar em palavras aquilo que nós, comuns, não conseguimos.

Como médicos, lidamos diariamente com situações que envolvem dor, tristeza e sofrimento. Ainda assim, basta que um paciente chore na consulta para que fiquemos sem ação, sem saber o que fazer, tentando calar o choro em vez de permiti-lo. A verdade é que aprendemos a fazer diagnósticos mirabolantes e a realizar cirurgias microscópicas, mas não ficamos à vontade para amparar um ser humano que sofre à nossa volta.

Chorar pode ser um santo remédio, e eu diria que muita gente adoece por não conseguir chorar. Chorar é um desabafo, é um alívio para uma alma que sofre apertada. Chorar é desatar o nó que apertava o peito. Permitir que alguém chore na consulta, amparando-o com um mínimo de calor humano, tem um efeito terapêutico enorme. Essa é a base de vários tipos de terapias, desabafar para aliviar-se e dividir o peso do sofrimento com outro ser humano.

Criamos uma sociedade em que o pranto é visto como fraqueza. Criamos uma sociedade que prefere entorpecer pessoas com medicamentos a vê-las chorar. Que bom seria mudar isso e poder desabafar com um médico, um familiar ou um amigo do peito sem medo de ser tachado de fraco. Máquinas não choram. Zumbis também não. Chorar é coisa de gente. Chorar é humano. Amparar alguém que chora é ainda mais humano. Desesperadamente humano.